Raphaela estava se sentindo impotente, caída no chão tentava reunir suas forças para se levantar. Apoiando-se em uma prateleira, olhou para os lado e viu que Juliana havia esquecido sua bolsa. Resolveu levar a bolsa junto com ela, para que pudesse entregar a Juliana na próxima vez que se encontrassem.
Ao chegar em casa Juliana foi trancada em seu quarto. Sua mãe não queria vê-la, dizia não saber mais o que fazer, disse que a colocaria num colégio interno em outro estado se fosse necessário.
Juliana estava desesperada. Só de pensar que não veria mais seu amor o ar fugia de seus pulmões. Ela chorava e entre lágrimas e soluços sua cabeça e seu coração diziam que sem Raphaela não valia mais a pena viver. A vida não teria sentido sem o amor. Sem a pessoa que a tinha feito se sentir realmente viva. Em meio ao desespero resolve pegar um frasco de veneno e acabar com aquele sofrimento, com aquela dor.
- “Espero que todos me perdoem um dia, mas eu não suportaria viver sem ela”.
Vira o frasco e engole num gole só seu conteúdo.
***
Começa a sentir suas forças fugindo de seus músculos, seu sangue se esvaindo do corpo e sua vida que escorre como as areias de uma ampulheta.
Cai no chão, já sem reações, um corpo inerte. Ela ouve ao longe a voz de sua mãe, mas já é tarde e ela se deixa seguir seu destino.
Algumas horas passaram e a mãe de Juliana percebe que não tem nenhum barulho, choro, murmúrio e nem lamento vindo do quarto. Fica preocupada e resolve abrir a porta.
O corpo de sua filha estava estendido no chão e em umas das mãos um frasco vazio.
Ela não queria acreditar, aquilo não poderia estar acontecendo, sua filha, a pessoa que ela mais amava estava caída na sua frente. Começou a chorar compulsivamente, puxou o corpo de Juliana para seu colo. A cena era desoladora. Os gritos de dor daquela mãe atraíram as outras pessoas da casa que também se abalaram com a cena. Uma garota tão nova, tão linda, como aquilo podia ter acontecido. Por que ela teria feito aquilo?
Em poucos minutos uma ambulância chegou, mas a menina não tinha pulso, eles não poderiam fazer nada, seu corpo seria levado ao IML para a autopsia que diria qual veneno foi usado pela moça.
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A notícia se espalhou rápido pela cidade, e não tardou para que Raphaela ficasse sabendo. Primeiro ela achou que fosse uma brincadeira de mal gosto, depois achou que fosse uma armação da família de Juliana para afastá-las. Não podia ser verdade ela não queria acreditar.
Raphaela começou a gritar, o desespero era imenso e não se continha em lágrimas. Sua dor era ouvida por todos. Ela estava inconsolada, como pôde perder um amor que nem ao menos teve a oportunidade de prová-lo por completo. Elas não puderam ficar juntas, se amar, se conhecer, se permitir viver.
Ela não conseguia pensar, a dor era grande demais. Estar ali naquela cidade com as pessoas que impediram seu amor era torturante demais. Arrumou suas coisas em uma mochila e resolveu ir embora, seguir sua vida em outro lugar, outra cidade.
***
O enterro foi com o caixão fechado. Os médicos disseram que o veneno deixou Juliana desfigurada e que assim seria melhor, pois causaria menos traumas, a família acatou a decisão.
Grande parte da cidade acompanhou o velório e o enterro no dia seguinte. Todos estavam inconformados com a história. Uma história de preconceito, incompreensão e acima de tudo uma história de amor.
A mãe de Juliana chorava, não imaginava que aquilo pudesse ter acontecido, não entendia aquele amor, não sabia que ele era verdadeiro. Sua ignorância tirou sua filha do seu convívio, sua intolerância a fez perder sua menina, que só queria viver sua vida por completo, com o amor que seu coração tinha escolhido.
A história é contada até hoje, para que ninguém esqueça e principalmente jamais deixem essa história se repetir.
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The end.
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Mas o que ninguém sabe é que essa é a história que a cidade conheceu, na realidade a história tem outro desfecho.
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Na conversa que tiveram na biblioteca Raphaela deu a Juliana um frasco com uma toxina que provoca catalepsia, que retardaria os batimentos cardíacos e a respiração de Juliana a quase zero, e que assim ela seria dada como morta. O médico do necrotério era amigo de Raphaela, e eles tinham combinado que assim que Juliana chegasse ele ligaria para ela avisando.
Raphaela que já estava com as malas arrumadas (tanto a dela quanto a de Juliana que ela havia deixado na biblioteca).
Então foi só esperar a ligação para que as duas fugissem para uma cidade distante recomeçar as suas vidas.